Evitei, a todo custo, cair na mesmice e falar sobre o assunto mais explorado do momento: Michael Jackson. Mas não dá, estou sentindo necessidade de me posicionar sobre isso também.
Não foram poucas as vezes em que fui criticada ao dizer que gostava dele. Gostava (adoro!) sim, muito e de tudo. Das canções, do jeito de dançar, da voz afinadíssima, da peculiaridade artística. Pouco me importa se era "pop" demais, comercial demais, óbvio (ah, isso não era mesmo!) demais...Dane-se a crítica. O que me interessa, de verdade, é poder curtir sem culpa nenhuma essas canções que fizeram parte da minha adolescência e que me trazem lembranças maravilhosas.
Mas o que vem ao caso, na minha opinião, nem é a indiscutível genialidade dele. O que lamentei profundamente foi assistir junto com o mundo todo o desfecho triste de uma existência tão curta e tremendamente massacrada. Diante dos olhos do mundo inteiro esse cara percorreu uma trajetória dramática, se transformando numa coisa indecifrável, sem cor definida, assexuada, infantilizada, totalmente desestruturada. E um mundão de gente vendo e zombando. Outro mundão de gente aproveitando pra se dar bem às custas desses desatinos. E agora, o mesmo mundão chora sua perda e o idolatra, canta e dança, explora, explora, explora...Me sinto enojada. Caramba, uma pessoa com um talento tão especial, que deixou sua marca registrada na história, não merecia ter sido vista com maior boa vontade enquanto ainda havia tempo? A hipocrisia desconhece limites.
Aí ontem, cansada de ver o espetáculo deprimente promovido pela mídia sobre esse assunto e já bem desacreditada da capacidade humana de se doar em benefício de um semelhante, meu filho me surpreendeu com um relato casual que me devolveu a esperança. Me contou que há poucos dias atrás foi abordado por um homem que lhe pediu dinheiro para comprar comida. Como estava sem nada e também um pouco desconfiado, meu filho recusou. O homem insistia e o seguia, contando suas desgraças, dizendo que havia saído da cadeia e não conseguia uma oportunidade decente. E implorava que o ajudasse a comer naquele instante. Meu filho resolveu conversar com ele e lhe pediu que aguardasse, porque iria buscar um vale refeição para lhe oferecer um almoço. O homem, conformado com a costumeira falta de atenção, disse que iria embora, afinal, ninguém voltava mesmo para ajudá-lo. Chorou quando viu meu filho retornando e lhe oferecendo a comida.
É isso o que está faltando para a humanidade. Olhar para o outro e o enxergar de verdade. Foi isso que faltou para o pobre Michael Jackson, ninguém se dispôs a vê-lo de fato. É como diz a canção "Heal the Word": se você se importa muito com a vida, cure o mundo e faça dele um lugar melhor para você e para mim.